16/09/2016
Notícias Saúde
http://noticias.uol.com.br/saude/ultimasnoticias/redacao/2016/09/01/vacinacontradengueemaisindicadaparaquemjateveadoenca.htm
Estudo recomenda teste antes de
vacinação para dengue; entenda os
riscos
Fernando Cymbaluk
Do UOL, em São Paulo 01/09/2016 17h28
m Lucas Lima/UOL
Estudo publicado na revista Science
desta sexta-feira (2) indica que a
vacina contra a dengue leva a um
aumento de casos graves e
hospitalizações em quem nunca teve a
doença. Por isso, onde a incidência da
dengue não é tão alta, os
pesquisadores defendem que testes
sejam feitos para detectar se a pessoa
foi infectada antes da imunização. Os
resultados corroboram os achados de
pesquisa anterior, publicado no
periódico científico Lancet (acesse os
links no fim do texto).
A vacina é aprovada no Brasil, e o
Estado do Paraná conta com uma campanha de vacinação em 30 cidades
(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/09/1809286-primeiracampanha-de-vacina-contra-dengue-tem-baixa-adesao-no-parana.shtml).
Chamada
Dengvaxia, ela é indicada para indivíduos de 9 anos a 45 anos. Esse limite de 9
anos é exatamente porque foram observadas reações nas crianças menores.
Agora, os pesquisadores dos Estados Unidos e da Inglaterra sugerem que não é
idade (como foi imaginado anteriormente) que causa o aumento nos casos graves,
mas o não contato com vírus. Pelo menos, essa é a hipótese mais provável.
Explico. Nos testes realizados na Ásia, verificou-se um aumento nos casos de
hospitalização e dengue severa entre crianças de dois e cinco anos que tinham sido
vacinadas. Então, acreditaram que a idade favorecia o aparecimento de casos
graves, mas os pesquisadores fizeram modelagens matemáticas a partir dos testes
e viram que a não infecção explicava melhor os resultados.
Existem quatro variações (sorotipos) do vírus da dengue. Quem é infectado, fica
imunizado apenas contra aquele determinado sorotipo, podendo contrair a doença
se contaminado pelos outros três. E a segunda infecção tende a ser mais grave.
Nas pesquisas com a vacina realizadas na América Latina e na Ásia, se verificou
uma eficácia de 81,9% entre os participantes que já tinham tido dengue, enquanto a
eficácia entre os que nunca tinham sido infectados foi de 52,5%. É como se a
vacina agisse mais ampliando a imunidade pré existente de quem já teve dengue do
que aumentando a proteção em quem nunca teve.
Os pesquisadores indicam que o risco de casos graves não está presente apenas
entre crianças de menos de 9 anos, mas para toda a população na qual a maioria
das pessoas nunca teve contato com a dengue.
Importa mais saber se a pessoa é soropositiva [se
já foi infectada pelo vírus] do que saber a idade
Isabel Rodríguez, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore
(EUA)
Entre os que já pegaram a doença e que tomaram a vacina, a probabilidade de
hospitalização e dengue grave é 90% menor em comparação com vacinados que
nunca tiveram dengue, segundo o estudo.
Áreas com menos dengue devem ter maior cuidado.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) só recomenda a introdução da vacina em
lugares em que 70% ou mais da população já teve dengue, e não indica a vacina
onde esse número seja menor do que 50%.
O raciocínio é simples. Em locais e grupos em que a grande maioria das pessoas já
teve dengue, você provavelmente estará imunizando pessoas que já tiveram o
vírus. Vale lembrar que muitas vezes o primeiro contágio por dengue é
assintomático, e a pessoa não sabe se já teve a doença. Por isso, as estratégicas
de vacinação levam em consideração os dados estatísticos, a chamada
soroprevalência.
"Em locais com soroprevalência entre 30% e 50%, o impacto da vacinação é
limitado, mas positivo em termos gerais", diz Neil Ferguson, pesquisador do Imperial
College, de Londres. Ele explica que o número de casos de dengue leve é reduzido
nessas situações. Contudo, para o pesquisador, o benefício ocorre "à custa do
aumento do risco [de dengue severa] em quem nunca teve dengue".
Ferguson sugere que as consequências negativas da vacinação em grupos com
baixa soroprevalência podem ser evitadas elevando-se a idade das crianças a
serem vacinadas. Onde há, por exemplo, soroprevalência de 30%, "um aumento
global nas hospitalizações por dengue pode ser evitado ao se vacinar crianças de
13 anos de idade, em vez de 9 anos de idade", afirma.
Devo tomar a vacina?
Segundo especialistas consultados pelo UOL, não há contra indicação no uso da
Dengvaxia. As pesquisas mostram que em regiões onde a grande maioria da
população já teve dengue, a vacina garante redução de hospitalizações de 80,3%.
Assim, a decisão de tomar a vacina deve levar em consideração principalmente o
local em que a pessoa mora ou planeja morar. A taxa que indica a exposição de
uma população ao vírus da dengue chega a 90% em algumas cidades do Nordeste.
Já no Sul do país, a incidência é mais baixa devido ao clima, menos propício à
proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Cidades brasileiras
que participaram das pesquisas clínicas da vacina possuem soroprevalência de
74%.
Há também um fator relacionado à idade. A chance de já ter sido infectado pela
dengue é maior quanto mais velha é a pessoa. E vacinar crianças menores do que
9 anos é ilegal.
Os especialistas lembram também que a eficácia da vacina é considerada baixa em
comparação com outras vacinas (a da febre amarela protege em 90% dos casos,
por exemplo). Por isso, o uso de uma vacina com eficácia que não é a ideal precisa
ser acompanhado da garantia que ela está sendo inserida em regiões com as
melhores características para maximizar seus benefícios.
Para a OMS, fazer testes com todos os candidatos a tomarem a vacina em políticas
de vacinação em massa acarretaria um aumento grande nos custos, o que poderia
inviabilizar as campanhas.
Para quem quer tomar a vacina em clínicas particulares, é
possível realizar o teste.
A vacina deve ser dada em três doses. No Brasil, o valor de cada dose varia entre
R$ 132 e R$ 138. Nas clínicas, o preço é maior devido aos custos de aplicação e
armazenamento.
A vacina é eficaz onde há grande incidência de dengue
"Segundo a Sanofi Pasteur, fabricante da vacina Dengvaxia, o estudo publicado na
Science "confirmou os benefícios para a saúde pública da vacina em áreas com alta
incidência da doença". A farmacêutica afirma que "OMS concluiu que a vacina
deveria ser utilizada em ambientes endêmicos, em população com idade de 9 anos
ou mais, independentemente de sua exposição prévia à dengue (condição
sorológica)".
A farmacêutica também afirma que "a vacina contra dengue não aumenta a
gravidade dos casos ou hospitalizações" e que "a OMS não recomenda testes
sorológicos antes da vacinação dentro da indicação". "A Sanofi Pasteur está
alinhada com a recomendação da OMS", diz a empresa.
Por fim, a Sanofi diz que "a vacina é indicada para quem teve e quem não teve
dengue, sendo a eficácia superior em quem já teve a doença, alcançando o índice
de 82%". "Não observamos aumento de dengue grave e hospitalizações em 29 mil
indivíduos vacinados com a vacina contra dengue da Sanofi Pasteur. Observamos a
segurança desta vacina em soropositivos e soronegativos, portanto, não
consideramos um fator limitante à vacinação."
Veja os estudos publicados nas revistas Science
(http://science.sciencemag.org/content/353/6303/1033) e Lancet
(http://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(16)30168-
2/abstract).
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