O IMPACTO DAS PRAGAS URBANAS DO EXTERIOR NO INTERIOR

Esses
animais que vivem gravitando ao redor das estruturas de concreto aprenderam depois
de milhões de ano de evolução que o homem não come alimento estragado, pois as
bactérias que aderem e se nutrem desse alimento em decomposição afetam o
organismo humano. Já os insetos, por exemplo, tem outro sistema bem diferente e
a presença de microrganismos não afeta em nada o seu interesse nos alimentos.
Pelo contrário, alguns animais como as moscas, por exemplo, buscam resíduos em
decomposição e com certo grau de umidade para depositar os seus ovos. As larvas
que saem deles terão alimento farto e quanto mais abundante forem as colônias
de microrganismos patogênicos tanto melhor para o desenvolvimento das larvas.
Se
pensarmos somente em moscas, que se apresentam em muitas espécies e tamanhos,
já estamos lidando com um problema de grandes percepções.
Vamos
imaginar uma situação em que um medicamento, alimento ou até uma bolsa e soro
de uso hospitalar aparecem com um inseto, por pequeno que seja, no seu
interior, lacrado e pronto para o consumo. Se essa bolsa, ou alimento, ou
medicamento não for segregado a tempo, se cair nas mãos de um consumidor pode
gerar várias consequências graves, inclusive de causar um risco médico
importante para o paciente indefeso que receber uma alimentação endovenosa.
Agora,
vamos imaginar o fato e pensar como o inseto entrou naquele ambiente para ter
acesso a uma área produtiva tão delicada. Ele pode ter entrado pelo forro, pode
ter entrado por uma janela sem tela ou semi aberta, pode ter entrado via
mercadoria estocada em algum local infestado, as opções são tantas que fica
difícil imaginar qual a mais provável. Cada caso é um caso e merece um
rastreamento de detetive.
Voltando
à mosca, sabemos que os insetos não têm muito a pensar a não ser deixar sua
descendência na natureza. Nas cidades a natureza é estranha, tem arvores de concreto,
frestas mil, muitas luzes, muitos espaços, muito calor, muitos cheiros. Para um
inseto, é muita coisa. Inseto sente frio e gosta de temperaturas não muito
quentes nem muito frias, ou seja, o seu ambiente de casa ou de trabalho, e principalmente
num ambiente tipo uma sala limpa, onde as temperaturas são mantidas em cerca de
19 graus Centigrados. O mesmo pode acontecer em ambientes onde se manipula
chocolate, por exemplo. A questão principal é como evitar que um fato desses
ocorra e qual pode ter sido a motivação para o inseto entrar?
Se
a área permanece fechada e lacrada o tempo todo essa entrada fica difícil, mas
existem aqueles momentos em que a fabrica para a sua manutenção anual, o que
acontece geralmente nas Festas ou logo após. Nesse momento, as portas são
abertas, pessoas da manutenção entram na sala com equipamentos e as defesas
caem, e a temperatura equivale ao ambiente exterior só que mais amena, pois lá
fora o calor é grande. Está feita a equação. Os insetos são atraídos por luzes
e temperaturas confortáveis e instalam-se no ambiente interno dentro de
luminárias, tomadas de energia, pequena cavidades despercebidas. Quando a
produção é restaurada e as baixas temperaturas são estabelecidas os insetos
começam a circular, pois buscam água e alimento e aí começa o problema. Eles
parecem saídos do nada, mas são uma consequência.
Nesse
caso fui pesquisar as áreas externas que exportaram os insetos para o interior
da produção e o que me chamou mais a atenção foi o lixo: lixo orgânico e o lixo
reciclável. O que fazer com ele? A questão hoje merece maior destaque com a
aprovação, após 18 anos de espera, da Politica Nacional de Resíduos, antes
tarde do que nunca. O lixo é uma questão de primeira instância no ponto de
vista ambiental, mas é também crucial numa empresa, não importa o tamanho. A
maneira como cuidamos desse lixo orgânico tem um impacto direto nas pragas
urbanas do ponto de vista de atratividade e permanência.
E foi aí que as teorias
encontraram respaldo, no lixo com acondicionamento precário, em um piso áspero
e retentor de partículas de resíduos, sem uma rotina adequada de higienização.
Tudo começou aí, por incrível que pareça.
Essa temática é bastante comum em
visitas técnicas e o lixo é sempre tratado como lixo do ponto de vista
negativo. Lixo precisa ser manipulado com cuidado, separado, identificado e
protegido. Deve estar localizado em local que não bata muito sol, coberto de
preferencia e os latões que o acondicionam devem estar em um piso liso,
inclinado, de fácil limpeza, o que é um investimento bem baixo para qualquer
empresa. Os latões precisam ser higienizados com água sanitária diariamente e o
piso também. Como complemento adicional a empresa de controle de pragas pode
instalar um recurso que contenha iscas para moscas para reduzir ainda mais a
presença dos insetos.
Se essas providências forem
tomadas, riscos de insetos nas áreas produtivas vão ser reduzidos a quase zero.
Lucia Schuller