VOCÊ ENCONTRARÁ A RESPOSTA NO DECORRER
DESTE ARTIGO.
Estamos às vésperas de um periodo crítico do ano, a primavera, época em que a vida começa a acordar quando
falamos de pragas urbanas. Esse ano de 2016 apresentou alguns dias de inverno pesado, porém se esses dias não repetirem teremos uma repetição do ano passado em termos de infestações e manifestações de infestações de cupins, pelo menos na região Sudeste do país. Para os cupins as
temperaturas elevadas são ótimas, pois as colônias têm mais chances de
reproduzir.
Os cupins impactam muito as estruturas e não
somente a madeira acaba virando perda ou prejuízo. Por incrível que pareça, o
alumínio também pode ser alvo de cupins. Certamente que eles não comem ou roem
o alumínio, porém aderem com seus trilhos de matéria orgânica às peças de aluminio,
inutilizando-as definitivamente, fazendo com que elas retornem à condição de
sucata.
Figura
1 -
Peça de alumínio com vestígios de trilhos de cupins
Figura
2 - Os
mesmos vestígios vistos de outro ângulo
Os
cupins vivem escondidos a maior parte do ano e só são percebidos a partir de
setembro de cada ano, com o aumento das temperaturas quando saem dos ninhos
formando revoadas de acasalamento. São chamados de siriris ou aleluias.
Figura
3 -
exemplo de revoada de cupins reprodutores, chamados de siriris ou aleluias
Muitas
verdades e não verdades são ditas a respeito desse inseto. Vamos ver algumas
delas:
1 – Cupim come concreto – falso.
Na
verdade a concretagem além de trabalhar expandindo e contraindo de acordo com a
temperatura exterior forma fissuras que são usadas pelos cupins para dar
passagem a seus trilhos e chegar ao ponto de interesse, ou seja , a madeira que
contém a celulose, o alimento preferencial desses insetos.
O
cupim só come materiais que contenham celulose que é um composto orgânico, um
polissacarídeo que consiste em uma corrente linear de algumas centenas a
milhares de unidades de glicose. A celulose é o principal componente dos
tecidos de plantas verdes, muitas algas e oomicetos e é o mais comum composto
orgânico encontrado na natureza. Cerca de 33% de todas as plantas é feito de
celulose.
Figura
4 -
celulose
Voltando
à pergunta deste artigo – o que existe de comum entre os cupins e um boi ou
ruminante é a capacidade de digerir celulose. As duas espécies alimentam-se de
fibras vegetais que são digeridas graças a microrganismos (protozoários) simbiontes
que vivem dentro do rúmen (bovinos) e do trato intestinal de cupins e é isso
que os dois organismos têm em comum.
2 – Os cupins liberam um pó que cai dos
buracos como resíduo – verdadeiro.
Verdadeiro
quando falamos de cupim de madeira seca ou de brocas. Vamos falar sobre as
brocas mais adiante.
Na
verdade os cupins trabalham silenciosamente, no escuro, em locais expandidos
para fazer os seus ninhos. Estamos falando de cuins subterrâneos. A espécie Coptotermes
gestroi é a mais conhecido por gerar grandes prejuízos às estruturas
urbanas. É uma espécie exótica, ou seja, veio de outro país, não é nativa, e
por isso acabou encontrando ambiente mais favorável, sem predadores conhecidos.
O gênero Coptotermes abrange 48 espécies das quais 23 são orientais. Nem todas
as espécies do gênero Coptotermes são invasoras de estruturas, porém as que o
fazem, como a espécie C. gestroi o fazem melhor do que todas as espécies de
cupins existentes. Podem formar colônias de alguns milhões de indivíduos e seus
túneis de forrageamento podem alcançar 100 metros de extensão.
Figura
5 -
Coptotermes gestroi (cupim subterraneo asiatico)
Figura
6 -
tunel feito por cupim subterraneo
Temos
também os estragos causados por cupins de outra espécie – Cryptotermes brevis –
que ataca somente peças de madeira, portas, móveis e outras estruturas. A
presença do cupim de madeira seca, como essa espécie é chamada, é revelada por
montes de resíduos fecais que transbordam para fora dos furos na madeira. Esses
resíduos fecais são ásperos ao toque e na lupa são bolotas estriadas bem
características.
Figura
7 -
bolotas fecais de cupim de madeira seca
Esses
insetos não penetram nas estruturas de alvenaria, atacando diretamente as peças
de madeira.
Além
dos cupins subterrâneos e dos cupins de madeira seca, temos as brocas. Essas
não são insetos sociais, ou seja, não estão organizadas em uma estrutura social
com rei, rainha, operários e soldados. Na verdade são insetos solitários, que
perfuram a madeira para ali colocar os seus ovos e as larvas que saírem desses
ovos é que vão causar o estrago. São pequenos besouros, porém, às vezes podem
causar estragos mensuráveis, atacando portas, janelas, armários, pallets e
outras peças de madeira.
Os
danos causados por esses insetos aparecem na forma de pequenas perfurações com
furos bem arredondados por onde sai um pó bem fino semelhante a talco
resultante do trabalho feito pelas larvas na sua permanência dentro da madeira.
Figura 9
- perfurações feitas por brocas
Resumindo, esse período do ano é uma
época em que todos esses insetos estarão ativos. O fato positivo é que diante
dessa atividade é possível observar e chegar às origens da infestação e
conseguir a sua erradicação. Tudo tem seu lado bom e ruim na vida. Nesse caso
esse é o lado bom. O ruim é que há um custo para realizar o trabalho de
eliminação desses insetos, porém quanto mais cedo a sua presença for percebida,
melhor e menor o custo da intervenção.
Lucia Schuller
Bióloga