Ratos são criaturas extraordinárias. Conseguiram conquistar um lugar no
coração das crianças (e por que não nos adultos também?) encarnando personagens
como Mickey, Supermouse (os mais velhos com certeza irão lembrar-se dele, Jerry ( aquele que contracena com o
gato Tom) e ao mesmo tempo são temidos e odiados como agentes destrutivos e contaminantes
representando altos prejuízos econômicos para a indústria e uma fonte de
doenças para a população.
Essa dualidade de papéis tem em comum qualidades inerentes à sua espécie
que são sua extrema habilidade, adaptação, inteligência, perspicácia,
desenvoltura em meio a todo e qualquer obstáculo.
Tal oponente tem desafiado os profissionais de controle de pragas numa
luta sem fim para exterminá-los, bani-los do nosso cliente, impedir seu acesso
a produtos manufaturados e garantir assim o nosso pão de cada dia.
Não sei como andam as estatísticas a respeito, mas, certamente, 50% de
todos os serviços executados por uma empresa de controle de pragas estão
relacionados ao controle de roedores. O mercado oferece há anos produtos
raticidas com formulações adaptadas a todo tipo de situação, cujo objetivo seja
o de competir com o que é oferecido para esses animais em seu ambiente urbano.
Digo seu ambiente porque eles realmente costumam tomar conta do pedaço se não
forem tomadas medidas muito sérias a respeito.
Sempre gostei muito do assunto roedores, sempre admirei essas criaturas
tão destemidas. A forma como esses animais adentram nos ambientes ocupados por
humanos é no mínimo ousada. Eles certamente confiam demais em suas habilidades
de driblar nossas tentativas de eliminá-los.
A cada dia que passa aprendo um pouco mais sobre eles. Recentemente li
um livro sobre a experiência de um repórter americano que passou um ano
observando esses animais nos becos de Nova York e seus relatos são surpreendentes.
Controlar roedores só com raticidas, considero uma falácia, uma proeza inalcançável.
Mesmo quando podíamos lidar com produtos altamente tóxicos como o 1080
(monofluoracetato de sódio), largamente utilizado nos anos 60 e 70 e até mais
tarde de forma ilegal, os resultados podiam até ser espantosos no começo. Era
possível coletar carrinhos de mão cheios de ratos mortos. No entanto, esses
animais aprendiam rapidamente a evitar o que causava aquela matança e com
certeza isso se deve a capacidade de aprendizado desta criatura extraordinária.
Durante esses anos de aprendizado na profissão algumas coisas ficaram
claras para mim. Uma delas e talvez a mais importante é a relação direta entre
o meio ambiente e a forma como o tratamos e as infestações de ratos. O rato nos
segue, nos acompanha em nossas pegadas ecológicas e o lixo costuma ser o principal
atrativo. Chego a pensar que ele calcula intuitivamente a quantidade de
alimento que temos armazenado em função do lixo desprezado. Eles sabem
claramente onde obter o alimento e recrutam outros ratos, usam seus poderes de
comunicação ultrassônicos para espalhar a notícia para toda a comunidade murina.
A nossa luta está em fazer nosso cliente entender como essa relação é
poderosa e nos ajudar nesse combate, por que sem o cliente, nada feito. É
preciso colaboração. Não estou falando de casos simples como um camundongo que
se esgueira por debaixo da porta. Falo de áreas de armazenagem de grande porte,
em supermercados principalmente, onde eles reinam absolutos, e não há raticida,
por mais poderoso que seja, capaz de acabar por completo com essa turba voraz.
E por isso devemos dar Graças a Deus aos ratos. Enquanto estivermos
lutando para convencer nossos clientes a executar medidas preventivas de peso,
que realmente funcionem e afastem os ratos dos ambientes, nós vamos continuar
garantindo os nosso 50% de faturamento todos os meses.
Os ratos urbanos são a nossa garantia de mantermos nossas empresas
abertas e funcionando por muitos anos ainda, a não ser que surja uma super
solução exterminadora que acabe com a nossa alegria, o que, a meu ver, é muito
pouco provável de acontecer.
E Viva os Ratos.
Lucia Schuller
Bióloga