terça-feira, 1 de novembro de 2016

RATOS - AS SUPER CRIATURAS



           
Ratos são criaturas extraordinárias. Conseguiram conquistar um lugar no coração das crianças (e por que não nos adultos também?) encarnando personagens como Mickey, Supermouse (os mais velhos com certeza irão lembrar-se dele, Jerry ( aquele que contracena com o gato Tom) e ao mesmo tempo são temidos e odiados  como agentes destrutivos e contaminantes representando altos prejuízos econômicos para a indústria e uma fonte de doenças para a população.


Essa dualidade de papéis tem em comum qualidades inerentes à sua espécie que são sua extrema habilidade, adaptação, inteligência, perspicácia, desenvoltura em meio a todo e qualquer obstáculo.

Tal oponente tem desafiado os profissionais de controle de pragas numa luta sem fim para exterminá-los, bani-los do nosso cliente, impedir seu acesso a produtos manufaturados e garantir assim o nosso pão de cada dia.

Não sei como andam as estatísticas a respeito, mas, certamente, 50% de todos os serviços executados por uma empresa de controle de pragas estão relacionados ao controle de roedores. O mercado oferece há anos produtos raticidas com formulações adaptadas a todo tipo de situação, cujo objetivo seja o de competir com o que é oferecido para esses animais em seu ambiente urbano. Digo seu ambiente porque eles realmente costumam tomar conta do pedaço se não forem tomadas medidas muito sérias a respeito.

Sempre gostei muito do assunto roedores, sempre admirei essas criaturas tão destemidas. A forma como esses animais adentram nos ambientes ocupados por humanos é no mínimo ousada. Eles certamente confiam demais em suas habilidades de driblar nossas tentativas de eliminá-los.

A cada dia que passa aprendo um pouco mais sobre eles. Recentemente li um livro sobre a experiência de um repórter americano que passou um ano observando esses animais nos becos de Nova York e seus relatos são surpreendentes.

Controlar roedores só com raticidas, considero uma falácia, uma proeza inalcançável. Mesmo quando podíamos lidar com produtos altamente tóxicos como o 1080 (monofluoracetato de sódio), largamente utilizado nos anos 60 e 70 e até mais tarde de forma ilegal, os resultados podiam até ser espantosos no começo. Era possível coletar carrinhos de mão cheios de ratos mortos. No entanto, esses animais aprendiam rapidamente a evitar o que causava aquela matança e com certeza isso se deve a capacidade de aprendizado desta criatura extraordinária.

Durante esses anos de aprendizado na profissão algumas coisas ficaram claras para mim. Uma delas e talvez a mais importante é a relação direta entre o meio ambiente e a forma como o tratamos e as infestações de ratos. O rato nos segue, nos acompanha em nossas pegadas ecológicas e o lixo costuma ser o principal atrativo. Chego a pensar que ele calcula intuitivamente a quantidade de alimento que temos armazenado em função do lixo desprezado. Eles sabem claramente onde obter o alimento e recrutam outros ratos, usam seus poderes de comunicação ultrassônicos para espalhar a notícia para toda a comunidade murina.

A nossa luta está em fazer nosso cliente entender como essa relação é poderosa e nos ajudar nesse combate, por que sem o cliente, nada feito. É preciso colaboração. Não estou falando de casos simples como um camundongo que se esgueira por debaixo da porta. Falo de áreas de armazenagem de grande porte, em supermercados principalmente, onde eles reinam absolutos, e não há raticida, por mais poderoso que seja, capaz de acabar por completo com essa turba voraz.

E por isso devemos dar Graças a Deus aos ratos. Enquanto estivermos lutando para convencer nossos clientes a executar medidas preventivas de peso, que realmente funcionem e afastem os ratos dos ambientes, nós vamos continuar garantindo os nosso 50% de faturamento todos os meses.

Os ratos urbanos são a nossa garantia de mantermos nossas empresas abertas e funcionando por muitos anos ainda, a não ser que surja uma super solução exterminadora que acabe com a nossa alegria, o que, a meu ver, é muito pouco provável de acontecer.

E Viva os Ratos.


Lucia Schuller

Bióloga