O
Brasil enfrenta hoje uma série de epidemias: morais, institucionais e
biológicas. Já vimos há alguns anos lutando contra a dengue que vitimou desde
2001 milhares de pessoas em todo o Brasil. Em 2014 surge a chikungunya e o
vírus zica em 2015 para complicar o cenário.
Interessante
que continuamos lidando contra o mesmo inimigo, o mosquito. Inseto estudado
mundialmente e que tem a capacidade de instalar epidemias ao redor do globo, a
maioria delas concentradas em países com altas populações de baixa renda, baixa
educação e clima tropical altamente favorável.
No
Brasil as campanhas se sucedem, ano após ano na busca de uma maior
conscientização da população quanto aos riscos representados por esse pequeno
inseto à saúde pública.
O
incrível de tudo é que, apesar de tanto investimento vindo de tantas fontes,
essa tal de conscientização ainda não atingiu o seu objetivo que é mudar
realmente o comportamento do brasileiro em relação à eliminação de focos do
mosquito Aedes aegypti. É realmente difícil de entender que estejamos
ainda tão fora da realidade da saúde pública neste aspecto.
Agora
um novo perigo se avizinha: a febre amarela. Um vírus bem mais potente e
mortal, que mata rapidamente animais e humanos. Há que distinguir a febre
amarela urbana da febre amarela silvestre. Não estamos enfrentando uma epidemia
de febre amarela urbana. Esta foi extinta no tempo de Oswaldo Cruz, porém
vivemos uma situação complicada em que a floresta é nossa vizinha e lá vivem o Haemagogus e Sabethes, ambos mosquitos vetores do vírus da febre amarela. Esses
insetos vivem no meio da floresta e nas suas franjas e em ambientes cada vez
menores graças ao desmatamento sem limites. Segundo o Instituto SOS Mata
Atlantica o período 2015/16 registrou um crescimento de 60% no desmatamento que
corresponde a perda de 29 hectares de Mata Atlantica. Essa perda tem
consequências graves com maior concentração dos vetores que favorece a
transmissão do vírus dentre outros aspectos importantes.
E é aí
que mora o perigo. Por enquanto o nosso inimigo o mosquito Aedes aegypti ainda não
circula pelas áreas urbanas abrigando o vírus da febre amarela, mas isso pode
mudar de uma hora para a outra. Se nós descuidarmos deste mosquito ele poderá
estar suficientemente abundante e repleto de vírus para começar o ciclo da
febre amarela urbano. E aí o bicho pega, como se diz na gíria popular. Se isso
acontecer pode ser um desastre para as populações urbanas.
O que
fazer então, como barrar essa doença tão
mortal? Certamente que não é matando macacos. Eles são os nossos sentinelas,
eles nos avisam da presença do vírus e precisamos ficar de olho nesses (os
macacos) o tempo todo. A Vigilância Epidemiológica com certeza está fazendo
esse papel.
Agora,
o Aedes
aegypti continua por aí, leve e solto, levando as outras mazelas para a
população, que está mais do que informada a respeito mas parece não entender
direito.
Os
mosquitos são insetos aquáticos. Estamos acostumados a ver os mosquitos na
televisão caricaturados com asinhas, longos bicos, pronto a nos alfinetar e
isso coloca no consciente coletivo uma ideia de que uma latinha de aerossol, ou
várias, vão resolver o problema com esses bichos infernais matando os bichinhos
que ficam voando no ambiente e isso é uma meia verdade.
Ora,
se estamos lidando com um animal aquático por que usar um inseticida na forma
espalhada? Vamos ao ponto, vamos ao nascedouro, onde eles se criam e matamos
três coelhos com uma cajadada só: o ovo, a larva e a pupa. Se atacarmos essas três
formas o mosquito nunca será adulto e nunca virá nos picar e transmitir os seus
flagelos.
Precisamos
nos conscientizar de uma vez por todas desse nosso importante papel no controle
desta praga. Confiamos demais no uso de inseticidas aspergidos, no entanto eles
matam aqueles que estão com asinhas, tem uma ação limitada. Mas e os milhares que estão se desenvolvendo
já devidamente colocados em locais estratégicos, um a um, ovo por ovo, para
garantir a sobrevivência desta espécie de inseto.
É uma
luta insana mas nós podemos vencer através da educação focada no objetivo
primários que é a eliminação das formas aquáticas de vida deste inseto através
das várias técnicas existentes, em particular a observação, o cuidado e a
vigilância do ambiente. Precisamos agir, pois caso contrário seremos presas
fáceis.
Lucia
Schuller
Bi[ologa
e Mestre em Saúde Pública
Tabela:
Semelhanças e diferenças entre as espécies de mosquitos que transmitem a febre
amarela
|
Haemagogus
|
Sabethes
|
Aedes
aegypti
|
Resistencia
dos ovos
|
Ficam viáveis
para eclosão por cerca de quatro meses em ambientes secos
|
Precisam
entrar em contato com a água logo após a postura. Não resistem em
ambientes
sem água
|
Ficam
viáveis para eclosão por cerca de um ano em ambientes secos
|
Aparência
|
Haemagogus
leucocelaenus:
castanho-escuro
preto, sem listras brancas nas patas;
Haemagogus
janthinomys:corpo brilhoso e colorido
|
Colorido
metalizado, com tons violeta, roxo, azul e verde (dependendo da espécie)
|
Preto com
listras brancas no tórax e nas patas
|
Hábitos
|
Hábito
Diurno,
com maior atividade para picadas entre meio-dia e o pôr do sol
|
Diurno,
com maior atividade para picadas entre meio-dia e o pôr do sol
|
Diurno,
com maior atividade para picadas no começo da manhã e no final da tarde, mas
também pode picar à noite
|
Distância
do voo
|
A espécie
Hg. Leococelaenus pode voar por cerca de 6 km
|
Distância
de voo
Não é
conhecida
|
Voa
usualmente num raio de 40 a 50 metros. Pode atingir até 600 metros, caso
precise
|
Alvo
preferencial
|
Macacos
mas pode picar humanos
|
Macacos
mas pode picar humanos
|
Humanos
|
Transmissão
do vírus da febre amarela
|
Somente a
fêmea transmite. Responsável pela transmissão
no ciclo
silvestre
|
Somente a
fêmea transmite.Responsável pela transmissão
no ciclo
silvestre
|
Somente a
fêmea transmite.Responsável pela transmissão
no ciclo
urbano.
|
Criadouros
e oviposição
|
Deposita
os ovos na parede interna de ocos das árvores e bambus, próximo à lâmina
d’água
|
Coloca os
ovos diretamente sobre a superfície da água
acumulada
em ocos as árvores e bambus
|
Deposita
os ovos na parede interna do criadouro, próximo à lâmina d’água. Tem
preferência
por ambientes artificiais, comuns no ambiente
urbano:
pneus, caixa d’água,bandeja de ar condicionado,vaso de planta, ralos, dentre
outros
|
Resistencia
dos ovos
|
Ficam
viáveis para eclosão por cerca de quatro meses em ambientes secos
|
Precisam
entrar em contato com a água logo após a postura. Não resistem em ambientes
sem água
|
Ficam
viáveis para eclosão por cerca de um ano em ambientes secos
|
|
7 a 10
dias Cerca de um mês 7 a 10 dias
|
na fase
adulta) Cerca de 30 dias Ultrapassa meses após
atingir a
idade adulta
|
Cerca de
30 dias
|