terça-feira, 27 de agosto de 2019

Mosquitos são insetos aquáticos




O Brasil enfrenta hoje uma série de epidemias: morais, institucionais e biológicas. Já vimos há alguns anos lutando contra a dengue que vitimou desde 2001 milhares de pessoas em todo o Brasil. Em 2014 surge a chikungunya e o vírus zica em 2015 para complicar o cenário.

Interessante que continuamos lidando contra o mesmo inimigo, o mosquito. Inseto estudado mundialmente e que tem a capacidade de instalar epidemias ao redor do globo, a maioria delas concentradas em países com altas populações de baixa renda, baixa educação e clima tropical altamente favorável.

No Brasil as campanhas se sucedem, ano após ano na busca de uma maior conscientização da população quanto aos riscos representados por esse pequeno inseto à saúde pública.

O incrível de tudo é que, apesar de tanto investimento vindo de tantas fontes, essa tal de conscientização ainda não atingiu o seu objetivo que é mudar realmente o comportamento do brasileiro em relação à eliminação de focos do mosquito Aedes aegypti. É realmente difícil de entender que estejamos ainda tão fora da realidade da saúde pública neste aspecto.

Agora um novo perigo se avizinha: a febre amarela. Um vírus bem mais potente e mortal, que mata rapidamente animais e humanos. Há que distinguir a febre amarela urbana da febre amarela silvestre. Não estamos enfrentando uma epidemia de febre amarela urbana. Esta foi extinta no tempo de Oswaldo Cruz, porém vivemos uma situação complicada em que a floresta é nossa vizinha e lá vivem o Haemagogus e Sabethes, ambos mosquitos vetores do vírus da febre amarela. Esses insetos vivem no meio da floresta e nas suas franjas e em ambientes cada vez menores graças ao desmatamento sem limites. Segundo o Instituto SOS Mata Atlantica o período 2015/16 registrou um crescimento de 60% no desmatamento que corresponde a perda de 29 hectares de Mata Atlantica. Essa perda tem consequências graves com maior concentração dos vetores que favorece a transmissão do vírus dentre outros aspectos importantes.

E é aí que mora o perigo. Por enquanto o nosso inimigo o mosquito Aedes aegypti ainda não circula pelas áreas urbanas abrigando o vírus da febre amarela, mas isso pode mudar de uma hora para a outra. Se nós descuidarmos deste mosquito ele poderá estar suficientemente abundante e repleto de vírus para começar o ciclo da febre amarela urbano. E aí o bicho pega, como se diz na gíria popular. Se isso acontecer pode ser um desastre para as populações urbanas.

O que fazer então, como  barrar essa doença tão mortal? Certamente que não é matando macacos. Eles são os nossos sentinelas, eles nos avisam da presença do vírus e precisamos ficar de olho nesses (os macacos) o tempo todo. A Vigilância Epidemiológica com certeza está fazendo esse papel.

Agora, o Aedes aegypti continua por aí, leve e solto, levando as outras mazelas para a população, que está mais do que informada a respeito mas parece não entender direito.

Os mosquitos são insetos aquáticos. Estamos acostumados a ver os mosquitos na televisão caricaturados com asinhas, longos bicos, pronto a nos alfinetar e isso coloca no consciente coletivo uma ideia de que uma latinha de aerossol, ou várias, vão resolver o problema com esses bichos infernais matando os bichinhos que ficam voando no ambiente e isso é uma meia verdade.

Ora, se estamos lidando com um animal aquático por que usar um inseticida na forma espalhada? Vamos ao ponto, vamos ao nascedouro, onde eles se criam e matamos três coelhos com uma cajadada só: o ovo, a larva e a pupa. Se atacarmos essas três formas o mosquito nunca será adulto e nunca virá nos picar e transmitir os seus flagelos.

Precisamos nos conscientizar de uma vez por todas desse nosso importante papel no controle desta praga. Confiamos demais no uso de inseticidas aspergidos, no entanto eles matam aqueles que estão com asinhas, tem uma ação limitada.  Mas e os milhares que estão se desenvolvendo já devidamente colocados em locais estratégicos, um a um, ovo por ovo, para garantir a sobrevivência desta espécie de inseto.

É uma luta insana mas nós podemos vencer através da educação focada no objetivo primários que é a eliminação das formas aquáticas de vida deste inseto através das várias técnicas existentes, em particular a observação, o cuidado e a vigilância do ambiente. Precisamos agir, pois caso contrário seremos presas fáceis.

Lucia Schuller
Bi[ologa e Mestre em Saúde Pública

Tabela: Semelhanças e diferenças entre as espécies de mosquitos que transmitem a febre amarela

Haemagogus
Sabethes
Aedes aegypti
Resistencia dos ovos
Ficam viáveis para eclosão por cerca de quatro meses em ambientes secos
Precisam entrar em contato com a água logo após a postura. Não resistem em
ambientes sem água

Ficam viáveis para eclosão por cerca de um ano em ambientes secos

Aparência

Haemagogus leucocelaenus:
castanho-escuro preto, sem listras brancas nas patas;
Haemagogus janthinomys:corpo brilhoso e colorido

Colorido metalizado, com tons violeta, roxo, azul e verde (dependendo da espécie)

Preto com listras brancas no tórax e nas patas

Hábitos
Hábito
Diurno, com maior atividade para picadas entre meio-dia e o pôr do sol

Diurno, com maior atividade para picadas entre meio-dia e o pôr do sol

Diurno, com maior atividade para picadas no começo da manhã e no final da tarde, mas também pode picar à noite

Distância do voo
A espécie Hg. Leococelaenus pode voar por cerca de 6 km
Distância de voo
Não é conhecida

Voa usualmente num raio de 40 a 50 metros. Pode atingir até 600 metros, caso precise

Alvo preferencial
Macacos mas pode picar humanos

Macacos mas pode picar humanos
Humanos

Transmissão do vírus da febre amarela
Somente a fêmea transmite. Responsável pela transmissão
no ciclo silvestre

Somente a fêmea transmite.Responsável pela transmissão
no ciclo silvestre

Somente a fêmea transmite.Responsável pela transmissão
no ciclo urbano.

Criadouros e oviposição
Deposita os ovos na parede interna de ocos das árvores e bambus, próximo à lâmina d’água

Coloca os ovos diretamente sobre a superfície da água
acumulada em ocos as árvores e bambus

Deposita os ovos na parede interna do criadouro, próximo à lâmina d’água. Tem
preferência por ambientes artificiais, comuns no ambiente
urbano: pneus, caixa d’água,bandeja de ar condicionado,vaso de planta, ralos, dentre
outros

Resistencia dos ovos
Ficam viáveis para eclosão por cerca de quatro meses em ambientes secos
Precisam entrar em contato com a água logo após a postura. Não resistem em ambientes sem água

Ficam viáveis para eclosão por cerca de um ano em ambientes secos


7 a 10 dias Cerca de um mês 7 a 10 dias

na fase adulta) Cerca de 30 dias Ultrapassa meses após
atingir a idade adulta
Cerca de 30 dias