Após
invasão de ratos, condomínio de luxo em Campinas encontra mais de 80 cobras

Foto: Cobra recolhida por moradores no condominio em Campinas.
Os
cerca de 2.500 moradores do Residencial Shangrilá, um condomínio de alto padrão
na cidade de Campinas (SP), estão sofrendo com uma infestação de cobras
peçonhentas. Desde julho do ano passado, mais de 80 serpentes, todas venenosas,
foram capturadas no local.
Por
sorte, até agora, ninguém se feriu com gravidade. No entanto, os moradores
estão mais assustados desde a última segunda-feira (20), quando uma senhora,
que não teve o nome divulgado, caminhava com seus cachorros pelo condomínio e
acabou pisando em uma cobra. Ela foi levada até o Hospital de Clínicas da
Unicamp, onde permaneceu por 16 horas até ser liberada. Segundo a assessoria de
imprensa do hospital, a mulher não foi inoculada pelo veneno.
Lorene
Scheidt, presidente da Associação dos Moradores do Parque Residencial
Shangrilá, contou que a moradora acabou sendo picada no calcanhar por uma cobra
filhote.
"O
problema é tão sério que temos já um roteiro caso algum morador seja picado.
Testamos pela primeira vez na segunda-feira. A moradora foi imediatamente
levada ao Hospital de Clínicas da Unicamp, onde passou por todos os exames e
foi medicada, antes de receber alta", contou Lorene. Em caso de picada, o
socorro precisa agir rapidamente, já que o ferido pode sofrer insuficiência
renal e respiratória e até mesmo morrer.
Segundo
a presidente da Associação, também há a suspeita de que um poodle tenha sido
picado por uma cobra. O cachorro foi encontrado morto em uma das casas. A
presidente conta que o problema com as serpentes se agravou em julho do ano
passado, após um incêndio de grandes proporções ter consumido as plantações de
milho que cercam o condomínio.
"Depois
desse incêndio, tivemos uma infestação de ratos silvestres. Eles se espalharam
por todos os lugares, nas ruas, nas piscinas, parecia filme de terror. E com os
ratos, vieram as cobras, que são os predadores naturais desses animais",
explicou. "Como medida de contenção, selamos as bocas de lobo. Mas, dentro
do condomínio, tempos uma mata ciliar muito grande. Aqui tem todo tipo de
animal: bugio, macaco-tucano, capivara. A cobra achou um ambiente bom. O pior é
que em janeiro elas acasalam e em fevereiro dão cria", completou.

Foto:
Cobra é recolhida por moradores após ser encontrada em condomínio
A
cascavel é a cobra mais comum no condomínio, mas os moradores já encontraram
duas jararacas e uma coral, a mais venenosa. Segundo Paulo Anselmo Nunes
Felippe, diretor do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal da prefeitura
de Campinas, a situação está sendo monitorada pelo poder público. De acordo com
ele, as cobras capturadas no condomínio são devolvidas à natureza, a cerca de 1
km do residencial.
"As
cobras controlam os roedores daquela região. Elas estão no topo da cadeia
alimentar. Se a gente for soltá-las em outro lugar, os roedores voltam",
explicou.
A
medida adotada pelo Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal, porém, vem
sendo questionada por alguns moradores. "Eles acham que as cobras voltam
para cá, mas eu conversei com diversos especialistas que me garantem que as
serpentes não têm esse tipo de memória. Acho que, na verdade, temos é muitas
cobras vivendo aqui dentro do condomínio", disse Lorene.
Felippe
entende que o problema das cobras é cíclico e que foi agravado pelo incêndio do
ano passado. "O problema é que o condomínio fica na área rural, ao lado de
uma grande plantação. Mas, agora, a tendência é a diminuição do número de
cobras", falou.
Lorene
Scheidt acredita que o grande problema foi a urbanização que causou um grande
desequilíbrio ambiental na região. "Há 40 anos, aqui era uma fazenda
conhecida como 'paraíso das cobras e reino das corujas'. Ou seja, desde aquela
época as cobras já habitavam este lugar. Nós que viemos depois, invadimos o
espaço e agora estamos sofrendo as consequências", disse.
Ainda
como tentativa de conter o avanço dos animais, o condomínio está fazendo um
trabalho de conscientização para que a sujeira gerada pelos moradores não
atraia ratos e, consequentemente, mais cobras.
Thiago
Varella
Colaboração
para o UOL, em Campinas (SP) 23/03/201704h00 >
Atualizada 23/03/201714h34